quarta-feira, 25 de março de 2015

POR QUEM OS PRATOS QUEBRAM?




"No debate, a máxima tolerância; na ação, a máxima unidade" Antonio Gramsci

Quando lutamos pela defesa dos interesses dos trabalhadores, às vezes, temos que quebrar os pratos. Mas sempre com o inimigo bem identificado, qual seja, as elites e as personificações do capital. Às vezes com alguns grupos que jogam água no moinho da direita

Só justifica quebrar os pratos contra os adversários da classe.

Estamos diante de uma conjuntura “explosiva”, onde a direita assanhada busca derrotar os avanços conquistados conduzidos pelos governos populares e, de lambuja, se a correlação de forças permitir, apear do poder o governo eleito.

A CONTRAF é uma importante ferramenta de luta dos trabalhadores. Tem um papel importante a desempenhar.

Nos preocupa o que ocorreu no 4° Congresso onde se escancarou uma grave crise na direção da Entidade. Uma crise com pouca nitidez para quem não está no meio do processo, ou seja, a maioria dos bancários.

Um Congresso que ocorreu em um momento extremamente complexo da historia brasileira, onde os debates políticos foram praticamente nulos.

Como está delineado o processo, parece que não são pelos bancários que os pratos quebram!

Judicializar, buscar superar a situação de forma burocrática, revela caráter intransigente. Depois de tantos anos compartilhando caminhos e práticas, que tamanha divergência leva a tudo isso? O que está impedindo uma solução dialogada para os conflitos?

Ora, no momento vivido, não temos o direito de que interesses de grupos, incompreensões, incapacidade de construção de consensos, tire o necessário foco de buscar pavimentar os caminhos da resistência e dos avanços necessários.

No campo popular devemos evitar chegar a essa situação pois a unidade é essencial para resistir e avançar.

Não uma unidade formal, sem princípios, meramente para garantir poderes em aparatos. Uma unidade em torno de concepção e prática transformadora.

Pois então, como se constrói a unidade? É na ação e no fraterno, transparente e incisivo - se necessário - debate.

Crise é oportunidade, mas pode ser também um desastre.

Chamamos a todos(as) a buscar reconstituir nossa unidade e mais além, pois o momento impõe ampliar os arcos de alianças no campo popular.

Todavia, talvez seja necessário lavar alguns pratos sujos para azeitar a máquina da Contraf diante dos desafios e dos fardos que temos pela frente.

O primeiro prato sujo a ser encarado é a falta de transparência – A própria crise instalada, cujas causas são de difícil identificação, mostra que a vida da entidade não é muito cristalina.

Devemos superar, também, a estrutura vertical. Em tempos de redes sociais, de um mundo cada vez mais horizontalizado (inclusive nas empresas), é imperativo que incorporemos mais e mais sindicatos/trabalhadores nas formulações das políticas e nas decisões da entidade.

Permitir/estimular/ estruturar-se para ampla participação dos trabalhadores é imperativo.

É preciso superar a democracia de baixa intensidade, onde o cupulismo vigora – As decisões são, em sua maioria, feitas pelo campo majoritário, com dificuldades de incorporação de minorias (ou maiorias?) no processo de deliberação.

Podemos elencar outras questões a serem enfrentadas: a formação de baixa intensidade; a cultura do “pequeno debate” (carros/viagens/celular/estrutura) em detrimento das grandes causas, grande lutas.

É essencial identificar claramente as diferenças. A partir daí, buscar a unidade em cima de propostas concretas, conectadas com uma estratégia de longo alcance, pavimentada por uma tática adequada.

É uma oportunidade de repactuar, com todos atores, a gestão da entidade. Sistematizar um plano de luta ousado. É um momento de resistir para não perder direitos e mais além. Só vamos resistir, avançando.

Momento exige e facilita o debate mais estratégico quanto ao futuro da luta dos trabalhadores e de nossa categoria. Aproximou-se sobremaneira, a demanda imediata dos bancários das grandes questões nacionais.

A Política econômica afeta o dia a dia e o futuro da categoria. Futuro que depende do debate e da disputa sobre os rumos do país.

A questão previdenciária não se resolve somente com negociação com os bancos; Combate à corrupção só com reforma política.

Nossa categoria é afetada pela política tributária injusta. É um setor de classe média que está no meio do furacão. É bastante influenciada pelo ataque midiático e pela propaganda interna dos bancos.

O tacão da PL 4330 está sobre a cabeça da categoria. Uma luta difícil e decisiva para o futuro dos bancários.

Portanto os “pratos sujos” apresentados e os desafios que temos pela frente clamam a unidade. Lavar os pratos para “limpar a cozinha” e preparar a resistência/ofensiva necessária.

Estamos todos no mesmo barco. Problemas, quem não os tem? Mas a alma não pode ser pequena nesse momento. A política é feita de pessoas, os grupos são constituídos de seres humanos.

Nosso time junta os melhores corações e deve estar batendo no rumo dos verdadeiros objetivos dos trabalhadores. Essas energias precisam ser canalizadas para a boa luta.

Para isso é essencial a unidade das esquerdas e muita conversa com o povo, muita luta.

Tudo isso compreendendo a correlação de forças, o assanhamento da direita, na espreita para que retrocessos substanciais aconteçam.

Sem ingenuidades e sectarismos mas acreditando na força do povo, buscando impor nossa pauta, nossas razões convincentes e não, de forma acrítica, abraçar as razões governamentais.

Enfim, precisamos de um trabalho de tradução, que “visa esclarecer o que une e o que separa os diferentes movimentos e as diferentes práticas, de modo a determinar as possibilidades e os limites da articulação ou agregação entre eles”. (Boaventura Santos)



domingo, 8 de março de 2015

ÀS PORTAS DO GOLPE




“Estamos diante de dois futuros possíveis, ambos marcados por uma ruptura com o passado. Um é desesperador; o outro traz novas esperanças. Por definição, nenhum dos dois é infalível; tanto podemos cair novamente quanto nos reerguer. (Alain Touraine)

Temos visto muitas análises pessimistas do momento em curso. De fato é preocupante. Todavia devemos olhar com serenidade os cenários para buscar as oportunidades de transformação que o momento apresenta.

“Quando escrita em chinês, a palavra crise está composta de dois caracteres, um representa perigo, o outro representa oportunidade”.

Portanto, temos que transformar a crise em uma oportunidade de avanços. A derrota só será bebida amarga se concordarmos em tragá-la.

Duas questões estão em disputa:

- A narrativa do processo, numa peleia desigual, com a mídia mentindo e manipulando como nunca visto.

- A vida real, onde as medidas econômicas afetam o cotidiano das pessoas, influenciando comportamentos, posicionamentos, e a própria narrativa.
Devemos disputar essa narrativa, com mobilização e ideias convincentes;

Está claro que as bases parlamentares e partidárias, aliadas do governo, estão movediças e ruindo. Um governo popular, especialmente em uma crise dessas proporções, precisa fincar raízes no único aliado firme, o povo e os movimentos sociais organizados.

Existem poucas dúvidas de que ajustes nas contas governamentais precisam ser feitas. A questão é quais ajustes? As propostas até agora apresentadas, só penaliza o andar de baixo.

As medidas adotadas pelo governo são de alto risco e, sinceramente, espero que dê certo. Conforme o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, “estamos vivendo um período de resistência que será fundamental para recuperar a capacidade da economia já em 2015 para começarmos um novo ciclo de crescimento a partir de 2016.” (Sul21) 

Parece “estratégia Garricha”; espero, que tenham combinado com o “lateral”, o “João (do) mercado”.

Mudar a linha econômica escolhida pelo governo é essencial para que o futuro não seja desesperador. O tarifaço, potencial desemprego, entre outras consequências das medidas escolhidas, podem afastar a base de apoio popular.

Enquanto movimento social, nossa pressão terá que ocorrer coordenado em duas direções, de forma integrada.

- Pressão sobre o Governo para mudar a rota, especialmente das políticas econômicas. O governo escolhe seu caminho sob forte tensão e devemos pressioná-lo para corrigir a rumo.

- Concomitante precisamos, de forma decidida, enfrentar o reacionarismo que busca golpear a democracia. É ofensivo no congresso, votando contra os trabalhadores, com um judiciário ativo no conluio. Nunca é demais ressaltar que tudo é articulado pela imprensa militante/golpista.

O Golpe que falo não é somente contra o Governo eleito. Armam-se tempestades sobre os direitos dos trabalhadores, que poderão ser golpeados pelo Congresso Conservador e pelo Judiciário que julga na perspectiva das elites.

Para enfrentar o turbilhão temos que ter apoios e apelo popular. Não estamos enfrentando voluntaristas desarticulados. É um cerco, com conexões internacionais (vide Venezuela, Argentina), que se fecha sobre o governo brasileiro. Tem uma extensa articulação no parlamento, no judiciário, na Polícia Federal, sendo coordenado pela grande mídia.

Montalban, sintetiza nossas dificuldades e contra quem/o que estamos lidando. Compreendendo que “a pureza teórica de que os cidadãos são livres para se comprometer, buscando uma correspondência entre a proposta política e suas próprias necessidades, está falsificado por diferentes fatores:
 

- O poder econômico, mediáticos e estratégicos onde grupos dominantes com tentáculos internacionais impõe agenda;
- O capital fortalece os aparatos partidários que lhe são mais propensos;
- Elementos culturais, ancorados em ideias instrumentalizadas pelos veículos ideológicos do bloco dominante.


Quando os inimigos atacam de todos os lados, com o desânimo e desorientação de muitos, precisamos construir as condições para deixar de recuar, desfechando a necessária ofensiva. Os movimentos sociais são forças que podem fazer a diferença. Resistindo e fazendo avançar, simultaneamente.

O Governo Dilma poderia ajudar. Infelizmente as medidas tomadas até agora dificultam a ação dos movimentos. É só pauta negativa.

DEPOIS DA CRISE

“É inquestionável que as coisa vão mudar depois da crise. O retorno ao mundo pré-crise não é cogitado. Mas, serão estas mudanças profundas, radicais? Direcionar-se-ão para um bom rumo? Perdemos o sentimento de urgência, e aquilo que até agora se passou assombra o futuro”. (stiglitz)

Não tenhamos dúvida, depois da crise, teremos uma realidade diferente, uma correlação de forças modificada.

Poderemos ter avanços ou amargar retrocessos.

Creio ser consenso entre as esquerdas e setores progressistas a necessidade de reagir/agir contra a tentativa de impor retrocessos ao povo.

Todos apregoam que é preciso ir às ruas, se comunicar melhor. Retomar a iniciativa, sair do córner.

As dúvidas são: por onde começar; o que mobiliza amplas camadas da população.

Não há dúvida que precisamos rapidamente definir uma plataforma unificada que encante o povo.

Guardando paralelos pois são circunstâncias muitos diferentes, gostaria de lembrar a ousadia de Lenin em 1917, que após a primeira revolução democrática em fevereiro, defendeu, já em abril, a necessidade de aprofundar as mudanças e tomar o poder realizando a revolução socialista, que foi concretizada em outubro. Foi taxado como louco por muitos quando apontou essa necessidade. Não teve medo de triunfar!

SEM MEDO DE OUSAR

Ganhamos no voto, não ganhamos em organização. E, principalmente, houve recuo do governo em relação ao discurso da campanha eleitoral.

O antídoto contra o golpe em gestação é aprofundar as mudanças. não devemos ter medo de ousar.

É um momento de resistir para não perder direitos e mais além. Só vamos resistir, avançando.

A tendência pós-crise, é não ficar como está. E cá para nós, também não queremos que fiquemos na inércia. Queremos mais, “muda mais”!

Conquistamos liberdades; precisamos defendê-las! Mas, igualmente, faz-se necessário criar um movimento que, partindo das demandas e das reivindicações as mais diversas possíveis, reavive e ao mesmo tempo controle o mundo político.

Diante disso, precisamos traduzir nossas propostas para que o povo entenda e venha junto na construção das mudanças. Precisamos, com urgência meteórica, sintetizar nossa plataforma.

O debate está nas ruas, aproveitar o interesse da sociedade sobre a política, buscando influenciar a opinião pública. Temos que ter a competência de disputar a narrativa.

Por falar em plataforma, não tenho dúvida que a defesa da Petrobrás é elemento chave. Simboliza a defesa do Brasil, nosso passaporte para enfrentar as desigualdades.

A Defesa da Democracia, contra a tentativa de golpe é elemento essencial. Com a lista da Lava-Jato fica mais fácil de mostrar a necessidade de uma Reforma Política, concentrando as críticas no Congresso Conservador.

Temos um cardápio repleto: Reforma Política; Reforma tributária; Reforma agrária e rural; democratização da mídia...

Enfim, precisamos de um trabalho de tradução, que “visa esclarecer o que une e o que separa os diferentes movimentos e as diferentes práticas, de modo a determinar as possibilidades e os limites da articulação ou agregação entre eles”. (Boaventura Santos)

Precisamos fazer romper o “silêncio da vítimas”, construindo um sólido processo de mobilização com uma plataforma comum e grande espírito de unidade.

Assim, temos a oportunidade histórica de catapultar as bases para avanços consistentes em um novo ciclo de desenvolvimento com igualdade e democracia real.

O dia 12 de março no RS e 13 nos demais estados, é mais um momento desse processo. Devemos jogar todas as nossas energias para uma grande mobilização.

É hora de firmar o timão, e navegar com firmeza para cima das ondas e levar a esquadra Brasil para águas mais tranquilas, liquidando a privataria golpista.