terça-feira, 4 de dezembro de 2012

NÃO DEIXEM QUE ARRANQUEM SUA LÍNGUA


Depois de uma peregrinação que durou dez dias, a caravana da Oficina Literária do SindBancários chegou a Assunção para o lançamento do Livro “Esta Terra tem Dono”. A obra foi escrita por oficineiros coordenados pelo escritor Alcy Cheuiche. Os contos que ilustram as origens dos povos do Mercosul foram escritos em português e traduzidos para o espanhol e para o guarani.

Neste vídeo, um dos tradutores da equipe de Assunção, Mauro Lugo, lê em guarani a minha apresentação, escrita em português e traduzida para esse idioma. Essa apresentação aconteceu na Universidade de Assunção, capital do Paraguai, em 23 de novembro. O livro e a caravana foram muito bem recebidos também no Uruguai e na Argentina, onde foram lançados em dias anteriores.

Abaixo reproduzo a apresentação

Não deixem que arranquem sua língua

Eduardo Galeano em um dos livros da trilogia Memória do Fogo conta uma história que merece ser reproduzida. O fato ocorreu em 1767, nas Missões.

Nas gráficas das missões paraguaias tinham sido feitos alguns dos melhores livros impressos na América colonial. Eram livros religiosos, publicados em língua guarani, com letras e gravuras que os índios talhavam em madeira.

Nas missões falava-se o guarani e lia-se o guarani. A partir da expulsão dos jesuítas, é imposta aos índios a língua castelhana, obrigatória e única.

Ninguém se resigna a ficar mudo e sem memória. Ninguém obedece.”

(As Caras e as Máscaras, Eduardo Galeano, Editora Nova Fronteira)

Os bancários tem a língua afiada ao denunciar as injustiças; ao convocar para a luta; ao debater os contextos; para expressar a paixão; para afirmar e para questionar.

O Sindbancários é produto de uma tradição de protagonismos e de não se vergar ao que é imposto.

O livro que estamos apresentando me tocou sobremaneira em sua proposta. Primeiramente, através de contos, retratar a cultura comum de países que foram forjados a ferro e fogo, mas também como integração de povos.

Em segundo lugar, escrito em três línguas, português, espanhol e, com certo ineditismo, o guarani. Sem o guarani diminuiria a força dessa publicação.

Nesse século XXI, quando presenciamos novas tentativas de impor padrões, buscando submeter culturas, surge um livro que resgata a tradição missioneira de não se dobrar ao instituído, preservando a memória de resistência. Não é o castelhano, é a cultura americana que tenta tornar cosméticas as expressões populares.

Resgatamos o Guarani, afirmamos o espanhol, reafirmamos o português e, acima de tudo, pela cultura, integramos as pessoas através do fazer e da memória. Ninguém vai ficar insensível a esse projeto. Somos herdeiros desse espírito de ousadia. Como dizia Marx, somos radicais porque tomamos as coisas pela raiz, e a raiz, para o homem, é o próprio homem!

Resgatar a memória e a palavra, “soltando a língua” e a escrita é uma enorme contribuição para todas gerações.

Quero agradecer com muita ênfase a contribuição do amigo Alcy Cheuiche, parceiro de longa data. É mais uma edição das oficinas literárias do SindBancários, que já produziram cinco livros de excelente qualidade, sempre conduzidas com categoria pelo mestre Alcy.

Nossa gratidão aos escritores, que dedicaram preciosas horas de suas vidas a esta empreitada. Acima de tudo parabéns pelo resultado, surpreendente e de excelente qualidade. Agradeço também aos tradutores, que fizeram um trabalho esmerado, honrando os textos originais.

Um agradecimento especial aos meus colegas escritores bancários, verdadeiros herdeiros da garra guaraní e da solidariedade como missão de vida.

Mauro Salles Machado
Presidente do Sindbancários



sábado, 1 de setembro de 2012

ILUSÃO OU CONCEPÇÃO SINDICAL?




Não sou daqueles que pratica a política do não à tudo para marcar posições. Acredito na busca da unidade e de consensos que conduzam à luta e conquistas.

O momento exige a construção de propostas que unifiquem os trabalhadroes e potencializem a construção de grandes movimentos ofensivos unitários.

Precisamos resgatar as grandes causas, propostas que superem a pulverização do movimento sindical que via-de-regra gasta energias somente em lutas por categoria e disputas por espaços de poder.

A proposta apresentada pelo sindicato dos metalúrgicos do ABC de “Acordo Coletivo com Propósito Específico”, não contribui para esses objetivos. Mais ainda, abre as portas para retrocessos.

O elemento positivo da proposta, que possibilita avanços na Organização por Local de Trabalho, surge como moeda de troca para flexibilizar direitos, num perigoso precedente.

Ainda acredito que existe uma luta entre o capital e o trabalho e, no capitalismo, o capital prepondera. Apesar de avanços dos governos Lula/Dilma na área social, no quesito trabalho, poucos legados foram alcançados.

Para reverter essa situação devemos pautar o necessário debate visando uma grande ofensiva dos trabalhadores para que avanços sejam conquistados. Organização nos Locais de Trabalho, Garantia no emprego, proteção social (Fim Fator previdenciário; defesa SUS; etc), são consignas que unificam os trabalhadores.

A proposta olha o Brasil a partir do ABC. Propor que o negociado prepondere sobre o legislado não leva em conta a realidade de nosso país e do interior da maioria dos locais de trabalho. A correlação existente nos locais de trabalho não é favorável, tendendo a desarmar os trabalhadores nos escassos mecanismos de defesa que temos garantidos.

Peca pelo conteúdo e peca pela forma. O projeto não foi debatido amplamente com os trabalhadores, através de suas representações, mas já tramita na Casa Civil. Sem falar que está mais intenso o debate com os representantes patronais.

Não creio que avanços serão conquistados em negociações sem mobilizações efetivas. Seria uma ilusão sindical, ou seria uma concepção sindical? Ou ambas?

Precisamos barrar esse processo. Depois que for para o Congresso pode ser tarde. Conhecendo a correlação de forças do legislativo podemos ainda perder o que de avanço existe na proposta.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

NÃO TOQUEM EM NOSSAS CONQUISTAS!




Mais do que nunca, o tema previdenciário precisa ser incorporado como agênda prioritária dos trabalhadores.Estamos sendo atacados em várias frentes. Não bastasse as artimanhas do INSS para dificultar o acesso aos benefícios pelos trabalhadores vítimas de doenças e acidentes de trabalho, no debate pelo fim do famigerado fator previdenciário, tentam introduzir retrocessos inadmissíveis.

Quanto ao tratamento dispensado aos segurados, são recorrentes as denúncias que nos chegam quanto ao tratamento desumano e humilhante a que são submetidos muitos dos periciados.

As queixas são de que os segurados além de enfrentar a demora na marcação da perícia são tratados com desconfiança no ato pericial. São muitas as denúncias de que os trabalhadores periciados são tratados como possíveis fraudadores nos atos periciais. São muitos os trabalhadores que afirmam um tratamento descortês e ameaçador na perícia, muitas vezes com a ameaça de ser chamada a segurança ao menor questionamento do ato pericial. São muitas as denúncias de que as perícias não examinam os laudos dos médicos assistentes dos trabalhadores e desconsideram exames e laudos trazidos pelo segurado.

Agora mesmo, há poucas semanas atrás, como solução para o problema de atraso no agendamento das perícias, o INSS estava implantando nas agências que estão recebendo a intervenção, uma tabela de recuperação de doenças, o chamado atestado médico eletrônico. Assim, um trabalhador com o diagnóstico de LER/DORT - Lesão de Esforço Repetitivo, em membros superiores, teria um  prazo de recuperação de trinta dias, independente de suas características físicas pessoais, de suas atividades laborais cotidianamente desempenhadas, de sua condição orgânica de recuperação. O afastamento seria feito com um prazo determinado sem um exame apurado das exatas condições do segurado.

As perícias médicas do òrgão previdenciário devem ser criteriosas, examinando as causas de afastamento do segurado, as reais condições clínicas do trabalhador, as considerações feitas por seu médico assistente e os exames e laudos por ele trazidos.

A perícia não pode demorar quatro meses para ser realizada. O segurado não pode ser tratado como um inimigo pelo servidor público do INSS. O trabalhador não pode ser tratado como fraudador. A perícia deve examinar a relação entre a doença e o trabalho. O segurado merece respeito.

Quanto à tentativa do governo federal de trocar o fim do fator previdenciário pelo aumento da idade mínima impõe uma grande mobilização nacional.

Devemos levar em consideração a situação de milhares de brasileiros que não têm condições de estudar e só entrar no mercado de trabalho mais tarde, com mais idade, como ocorre nos países mais desenvolvidos. Portanto, esses trabalhadores pagarão mais para receber por menos tempo.

Infelizmente, as pessoas começam a trabalhar muito cedo para ajudar no orçamento da família, para sobreviver. Muitos enfrentam a rotina dura do corte de cana de açúcar, ou o trabalho nos setores químico, elétrico etc., aos 16 anos, no máximo 17 anos. Esses trabalhadores vão morrer antes de se aposentar. Vão pagar e não vão receber.

Um governo progressista deve buscar garantir a devida proteção social aos trabalhadores. A lógica atuária/contábil dos argumentos não se sustentam pois a previdência social não é deficitária e, mesmo que o fosse, a busca do custeio deveria ser canalizada para as grandes fortunas, para os bancos que tem isenção tributária.

Não vamos deixar tocar nos direitos conquistados pelos trabalhadores. O que é necessário é avançar nos direitos sonegados pelo neoliberalismo, promotor na crise e das injustiças sociais.

Pelo fim do fator previdenciário sem idade mínima, eis a luta principal do momento!




terça-feira, 29 de maio de 2012



Abaixo link e entrevista traduzida realizada pelo compenheiro Moah Cyr publicado no site russo http://www.chashkapetri.ru/

Link da entrevista no site Russo:
http://bit.ly/LPfOhP

PRECISAMOS RETOMAR A LUTA PELAS GRANDES CAUSAS



Com 50 anos, Mauro Salles é não é um neófito no movimento sindical brasileiro. Ao contrário, desde os 22 anos, quando ingressou no Banco Sulbrasileiro (atual Santander) é um combativo militante da causa da classe trabalhadora. Participou das grandes, memoráveis e vitoriosas greves dos bancários nos anos 80/90 do século passado. Igualmente esteve presente nas campanhas gerais dos trabalhadores no mesmo período – lutas cujas bandeiras eram Anistia, Constituinte e Eleições Diretas, entre muitas outras. Atualmente na presidência do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, cargo para o qual foi eleito em 2011, tem a espinhosa missão de conduzir o movimento sindical da categoria na difícil travessia rumo à modernidade tecnológica. Além de dirigir um dos mais importantes sindicatos de trabalhadores da história do Brasil. Dos quadros da entidade, saíram nada mais nada menos do que dois ministros e dois governadores do Rio Grande do Sul, além de inúmeros parlamentares. Olívio Dutra, por exemplo, presidiu o sindicato, foi prefeito de Porto Alegre, deputado federal, governador e ministro, e Tarso Genro, atual governador, que também foi prefeito, ministro e, por anos, advogado do sindicato. O atual prefeito de Porto Alegre, José Fortunatti, também presidiu a entidade. Ou seja, o Sindicato dos Bancários há anos que forma quadros políticos e os projeta para cargos de mando nas distintas esferas do poder público. Neste cenário, as reflexões de Mauro Salles acerca do desafio que tem pela frente – a partir do que vivenciou até então – são um precioso e estimulante incentivo para todos aqueles que acreditam que um mundo melhor é, sim, possível. A entrevista foi concedida no final da manhã/início de tarde do dia 29 de março de 2012, aos jornalistas José Edi e Moah Sousa, na sede do Sindicato dos Bancários no centro da capital gaúcha.


Segundo alguns observadores dos movimentos sociais, a partir do advento do governo Lula o sindicalismo perdeu muito da combatividade que possuía. O sindicalismo brasileiro envelheceu?
A nossa categoria vive um choque de gerações. Tem o pessoal mais antigo, mas está entrando muita juventude na categoria. O nosso secretário geral tem 26 anos. Eu tenho 50. Há então um choque, um encontro de gerações. Quanto a questão do governo Lula houve uma mudança em relação aos anos 90, do neoliberalismo. Hoje é outra realidade. É preciso contextualizar a atuação do movimento sindical. Antes tínhamos a luta contra a ditadura, pela anistia, contra a Nova República, pela Constituinte – as bandeiras de luta eram mais ousadas, a conjuntura permitia e exigia isto. Não era só o movimento sindical, estas bandeiras também eram abraçadas por outros setores do movimento social. O movimento sindical se aproveitou desta ebulição e as oposições começaram a assumir o controle de diversas entidades de representação dos trabalhadores. Naquela época acreditávamos que iríamos conquistar o poder e fazer a Revolução. Acreditávamos que o socialismo era possível. Depois dos anos 90, com o advento do neoliberalismo no Brasil, começou uma nova fase. Quando o Collor de Mello venceu a eleição, em 1989, tratou de implantar a cartilha política e econômica neoliberal. Se o Lula ou o Brizola (ex-governador do Rio de Janeiro, falecido em 21 de junho de 2004) tivessem vencido naquele momento talvez a história fosse outra. Teve início então um período extremamente nocivo para os trabalhadores brasileiros, com demissões em massa e privatizações. O movimento sindical, a organização dos trabalhadores passou a ser duramente reprimida, sendo um dos episódios mais significativos a repressão à greve dos petroleiros durante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso.

Existem diferenças entre os bancários e outras categorias de trabalhadores?
Sim, do ponto de vista da organização. Os petroleiros, a exemplo dos bancários, são uma das poucas categorias organizadas nacionalmente, cujas campanhas acontecem de forma unificada. A diferença, em relação aos bancários, é que eles, a rigor, têm um único patrão – a Petrobrás – enquanto os bancários têm de lidar com vários bancos, diversos empregadores. Nossa Convenção Coletiva é nacional. Do Oiapoque ao Chuí é a mesma Convenção.
Como você analisa a transformação da carreira do bancário na era do computador?
A tecnologia é uma ferramenta. O que mudou – e a tecnologia ajudou – foi o método de gestão. Hoje o controle do trabalhador é muito mais eficaz. Antigamente tinha o chefe do trabalhador. Hoje através de softwares é possível controlar a hora em que o trabalhador entra no computador, a hora em que ele sai do banco. As câmeras online também ajudam neste controle. Através de emails e torpedos os bancários são controlados e cobrados todo o tempo. O controle ficou mais intenso e também aumentou que a competição entre os colegas e a disputa entre agências.
Pode-se dizer então que a tecnologia facilitou a vida do cliente e prejudicou a vida do bancário?
A tecnologia serviu também para enxugar o mercado de trabalho. Hoje o cliente, nos terminais de auto-atendimento, executa operações que antigamente eram trabalho do caixa. Diminuiu o contingente de funcionários e também intensificou o trabalho. Não é só entre os bancários que se verifica esta situação. O mundo do trabalho é isto. É cada um por si. Hoje está se formando uma geração com um nível de individualismo muito grande. Esta geração tem dificuldade de participar de uma ação coletiva.
Com o advento da tecnologia nos anos 90 dizia-se que bancário era uma categoria em extinção. A afirmação se mantém?
Não. O contingente de trabalhadores diminuiu, mas a categoria permanece. O que pulverizou a categoria foi a terceirização, os promotores de vendas, as lotéricas que fazem operações bancárias. Há um grande número de pessoas trabalhando para o sistema financeiro sem serem bancários e sem usufruir dos benefícios salariais e sociais da categoria como, por exemplo, a jornada de seis horas.
Quem trabalha em banco hoje está com o futuro garantido?
Nos bancos públicos é possível construir uma carreira, mas nos bancos privados não, ninguém está seguro. A possibilidade de demissão é uma ameaça concreta.
Você acha que o trabalhador bancário está perdendo a memória?
Acaba perdendo. A preservação da memória não se dá apenas de forma oral e visual – que registramos através do nosso projeto de memória bancária. Isto é importante, mas a formação se dá na vida, na prática. Nós tivemos uma melhoria agora, pois desde 2002 temos tido greves na categoria – isto dá outra formação. Eu me formei num tempo de intensa mobilização da categoria, com a realização de greves maravilhosas e tal... A nova geração não tem isto, sem falar na questão do individualismo, da pulverização. Estas são as razões da dificuldade de implementar a luta coletiva. Nosso desafio é romper esta barreira cultural. Temos investido muito nisto, promovendo debates e discussões com a categoria.
O Sindicato de Porto Alegre foi um dos primeiros a levantar os problemas de saúde envolvendo os bancários. Como vem sendo trabalhada esta questão atualmente?
Tratamos principalmente de organizar e informar os trabalhadores. Temos um grupo de organização solidária, chamado portadores de doenças ocupacionais. Fornecemos informação jurídica, fizemos manifestações na Previdência Social contra os médicos dos bancos. A saúde pública está sucateada. O SUS foi uma conquista dos trabalhadores e hoje ninguém consegue ser tratado com dignidade pelo sistema. Precisamos reabraçar grandes causas como esta.
Nos últimos anos, o Sindicato ganhou muita visibilidade na área cultural com a criação da Casa. Como se deu o processo?
O Sindicato sempre teve uma atividade cultural muito intensa. Nas discussões sobre a reforma da sede, decidimos criar um espaço cultural multiuso, com sala de cinema e espaço para exposição de artes plásticas e debates culturais, um auditório e uma biblioteca, contemplando os interesses da categoria e ao mesmo tempo integrando a entidade ainda mais na vida da cidade. Conseguimos patrocínio da Petrobrás e do Banrisul para viabilizar o projeto, através de programas de isenção fiscal do governo federal. Na ocasião, houve um certo temor em relação ao apoio do banco estadual, o que na visão de alguns poderia criar uma submissão por parte do sindicato. Isto não aconteceu. No dia da inauguração do cinema, por exemplo, o diretor do banco estava participando da solenidade de inauguração e os funcionários estavam em greve. Não nos permitimos ser reféns por causa do patrocínio. Não deixamos de fazer a luta. Uma grande preocupação do nosso projeto foi e é não apenas de difundir, mas também promover cultura, o que fazemos através de oficinas literárias, teatrais e de vídeo direcionadas para os bancários. Também investimos na formação política e sindical, realizando debates e seminários.

Na luta contra a ditadura militar o que unificava os trabalhadores de distintas categorias era o socialismo como bandeira final. Esta bandeira continua?
Era a nossa utopia. Precisamos reencontrar este sonho. Um dos problemas é o pragmatismo que está em vigor no movimento sindical. A vida impõe e cobra resposta às demandas específicas. Neste quadro de especificidade, como é que vamos chamar a fazer revolução, construir o socialismo, um mundo melhor? Está complicado, é difícil de vislumbrar. Mas por mais que seja impossível agora, entendo que temos que insistir em bandeiras capazes de unificar os trabalhadores, como por exemplo, a luta contra a demissão imotivada. Estas bandeiras não são levantadas hoje porque o pessoal acha impossível de atingir, depende de força no Congresso Nacional, então não vai acontecer, então vamos nos apegar no possível, o salário mínimo, que é uma demanda que vem sendo respondida pelo governo, independente da ação sindical.
Para onde vão os bancários?
Depende da conjuntura econômica e social do Brasil. Vivemos um momento de ampliação do sistema, com a abertura de novas agências e concursos no Banco do Brasil e na Caixa Federal. Os bancários vão para onde for o Brasil.

(Uma correção, iniciei minha carreira bancária no Bradesco em 1982)


Автор: Moah Sousa, jornalist and cultural producer, moah@estadao.com.br

sábado, 12 de maio de 2012

MOVIMENTO SINDICAL E CULTURA PARTE 4



Cultura em processo (parte 2)

Nossos nós

Muitas vezes, num primeiro olhar, ou mesmo nas intensões do fazer, as ações são desconectadas, não foram pensadas para andarem juntas.

Como pessoas caminhando pelas ruas, aparentemente não tendo nada em comum, encontram-se na praça do bairro, para um comício ou uma atividade cultural.

Vindo de muitos lugares, o encontro permite compartilhar, aproximar, dar coerência, caminhar juntas.

As abóboras se acomodam no andar da carroça, mas também sabemos que é preciso planejar, pensar, mas não com a vertical imposição do já pronto.

Nosso projeto não é um caminhar solitário, é um andar de pessoas que buscam identidades, que querem expressar-se, ser protagonistas, atores e não objetos.

Nossa busca é dar vazão a essa nossa necessidade de falar e escutar

num eco “que se transforma em muitas vozes, em uma rede de vozes que, diante da surdez do poder, opte por falar ela mesma sabendo-se uma e muitas, conhecendo-se igual em sua aspiração a escutar e a se fazer escutar, reconhecendo-se diferente nas tonalidades e níveis das vozes que a formam. Uma rede de vozes que nasce resistindo, reproduzindo sua resistência em outras vozes ainda mudas ou solitárias”.

Nossa rede cultural é amarrada por nós que permitem lançá-la ao mundo, contribuindo para o desenvolvimento de uma nova cultura, a cultura do bem comum. Denunciando e anunciando...

Eis os nossos nós:

nós buscamos preservar o patrimônio material e imaterial
nós proporcionamos a fruição cultural, a produção e acesso aos bens culturais
nós nos organizamos em auto-gestão, buscando democratizar o acesso aos bens culturais
nós buscamos novos talentos; divulgação da produção cultural;
nós lutamos pela democratização da comunicação
nós damos prioridade para difusão cultural, contra a concentração da informação
nós defendemos as tecnologias livre
nós participamos
nós celebramos o coletivo, repeitando o singular
nós somos solidários



sábado, 5 de maio de 2012

MOVIMENTO SINDICAL E CULTURA PARTE 4


Cultura em processo (parte 1)

Aproximando o horizonte.
Uma ação leva a outra...a experiência do SindBancários de Porto Alegre

A categoria dos Bancários, organizada em torno do SindBancarios, tem uma tradição de luta, realizações e inserção na comunidade gaúcha.

Tem uma cultura de luta e protagonismo, construído na prática, em torno das lutas travadas no decorrer dos seus 79 anos.

Greve na ditadura, greve no fim da ditadura. A grande greve de 79. O período de ascenso nos anos de 1985 a 1991; o movimento pela criação do Meridional; entre outras lutas.

Participamos ativamente pela democratização do país.

Também fomos forjados na resistência ao tsuname neoliberal, das privatizações e demissões. Do fora Collor, da defesa do SUS, da previdência pública, do direito à participação popular.

A cultura está inserida na ação do SindBancários há bastante tempo. Mas de forma pontual, sem continuidade, muitas vezes como meros eventos, nos espaços disponíveis das lutas econômicas.

Atualmente buscamos a construção de uma política permanente e integrada na área cultural.

A construção de um projeto cultural está a ocorrer com os caminhos sendo descobertos ao caminhar, com avanços, recuos, adaptações, aperfeiçoamentos, aprendizados.

Mas com a clareza de que é essencial incorporar essa temática como prioritária em nossas ações e estratégias.
É um processo onde uma iniciativa leva à outra, criando consistência no decorrer da caminhada.

Poderíamos dizer que o marco desse processo foi a revitalização da sede do Sindicato, a Casa dos Bancários. 

No debate sobre o que fazer com os “escombros” da sede histórica da rua General Câmara, definimos que realizaríamos a revitalização do prédio.

O restauro garantiu a preservação das características históricas, modernizando o espaço.

No térreo destinamos uma área para um cinema. Começava a constituição de um espaço cultural, mesmo antes de ficar pronto, ainda em sonho, em anúncio.

O prédio foi inaugurado em agosto de 2004. Mas não queríamos que fosse apenas um espaço de tijolo e concreto. O desafio era tornar viva a sede, preenchendo sua estrutura com atividades, pessoas, idéias, sonhos.

Como uma coisa leva a outra, para além dos 1.800 metros quadrados, buscamos desenvolver atividades para o espaço.

Desde sua inauguração a Casa dos Bancários abrigou debates, palestras, assembleias, comando de greve, ciclos de cinema, confraternização, música, oficinas de cinema, teatro, literatura, mostras artísticas.

O espaço se consolida, constrói visibilidade.

E colocou um grande desafio: construir política cultural transformadora.

Que crie meios e condições para a educação do fazer.

Que possibilite a prática cultural (música, literatura, artes visuais, etc.) como principio orientador das formações.

Percebendo ser este o melhor passo para se conhecer essas linguagens e seus códigos, e a melhor chance de se alterar o padrão de relacionamento com as artes.

Ou seja, sair de uma fruição apenas de entretenimento (lazer) para uma prática na qual se desdobra um processo de desenvolvimento pessoal.

Buscamos organizar e dar coerência para as ações culturais de nosso sindicato.

Compreendemos que um projeto cultural pressupõe um processo contínuo e dinâmico.

O papel do Sindicato é estimular a criatividade, potencializar desejos, criar situações onde os trabalhadores possam participar e criar.

O protagonismo deve ser garantido, sem imposições, com gente em movimento, criando uma corrente que, com inquietude, questione o instituído.

Mas para indagar é preciso conhecer, formar gosto, ganhar competência para integrar signos e códigos.

Precisamos fomentar o processo de interpretação/reinterpretação cultural. Mas não são somente interrogações o que nos move. Precisamos exclamar, afirmar nossas identidades, nossos valores.

Em lugar de determinar (ou impor) ações e condutas, devemos estimular a criatividade, potencializando desejos e criando situações de encantamento social.

O desafio é permanente, sempre buscando garantir o protagonismo da categoria, como um processo de envolvimento, construído coletivamente pelas pessoas, fazendo, lutando e sonhando, pois essa é a nossa cultura


MOVIMENTO SINDICAL E CULTURA PARTE 1
http://sindicateando.blogspot.com.br/2010/11/boris-casoy-comete-gafe-ao-ofender.html

PARTE 2
http://sindicateando.blogspot.com.br/2010/12/movimento-sindical-e-cultura-2.html

PARTE 3
http://sindicateando.blogspot.com.br/2011/03/movimento-sindical-e-cultura-parte-3.html

quarta-feira, 25 de abril de 2012

PORQUE USO SOFTWARE LIVRE?!



Nos tempos que se avizinham, a vitalidade do sindicalismo aferir-se-á pela capacidade para si autotransformar, por iniciativa própria e não a reboque da iniciativa dos outros, antecipando as oportunidades em vez de reagir à beira do desespero, acarinhando a crítica e respeitando a rebeldia quando ela vem de sindicalistas dedicados e com provas dadas. (Boaventura de Souza Santos)

Software Livre é um modelo baseado na solidariedade, na socialização do conhecimento e na distribuição dos resultados produzidos.

Software Livre é liberdade.

Portanto o movimento sindical, que busca a mudança social, precisa engajar-se de forma ativa e efetiva nesse movimento.

E a categoria bancária tem a responsabilidade de ser vanguarda nesse intento. É um dos setores onde a tecnologia é utilizada de forma mais intensiva.

Nosso principal instrumento de trabalho é o computador e o uso da tecnologia é exercido para aumentar a exploração e o controle sobre os bancários.

Devemos usar as vantagens da tecnologia para criar consciências críticas, protagonismos sociais, com estratégias de resistência e transformação ao modelo imposto.

Estamos trabalhando pela viabilização de uma alternativa concreta, buscando inserir a questão tecnológica no contexto sindical.

Assim estamos fortalecendo nossas ações, buscando a defesa dos direitos, qualificando os serviços à categoria, e contribuindo para um mundo com inclusão social e igualdade no acesso aos avanços tecnológicos.

Além disso...

Através do fornecimento do código-fonte, o usuário tem a liberdade de executar, copiar, distribuir, estudar, modificar e aperfeiçoar o programa, o que contribui para que se chegue a programas de alta qualidade e performance.

Permite o desenvolvimento de softwares específicos e eficazes, que atendam plenamente suas necessidades de forma barata e confiável.

São programas seguros, livres de vírus, com compatibilidade entre as versões e não precisam de equipamentos de última geração para utilizá-los.

Me livrei do técnico, que eu pagava quase que semanalmente, pois o windows sempre “dava pau”. Ou era virus; a famigerada tela azul; etc. Sem falar do computador que com o tempo “ficava pesado”, forçando upgrade ou trocar de “máquina”.

Tenho orgulho de participar do SindBancários que busca, na prática, contribuir para superar a dependência de monopólios, desenvolvendo soluções tecnológicas para a categoria sendo abertas à sociedade. Para além do discurso, operamos quase que totalmente utilizando software livre, economizando recursos, sem perder em performance.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

10 ANOS A TODO GAS!

Os dominantes acham que conhecem o segredo das abelhas.
Mas o verdadeiro segredo das abelhas, é que elas não projetam seu fazer. Agem de forma instintiva.
Já os humanos podem projetar o fazer.
Conforme Marx, o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade.
Portanto, podemos mudar o mundo.
Os participantes do Grupo de Ação Solidária do SindBancários (GAS) há dez anos descobre e reafirma isso semanalmente.
Os colegas do GAS sabem que o segredo deles é buscar encobrir nossa humanidade, ou seja, nossa capacidade de conduzir nossos destinos.
Para isso mascaram a realidade, cujo ideal é que sejamos como as abelhas: Produzir sem pensar, questionar.
Mas os seres humanos não podem ser domesticados, enganados o tempo todo.
As contradições do sistema são de grande monta. As máscaras vão caindo, e o segredo da vida humana vai se desvelando.
Apesar das falsas aparências a realidade é produzida pela relação entre pessoas e grupos. Não são robôs e máquinas programadas que exercem o fazer social.
Entretanto o poder dominante tenta impor sua lógica apresentando-a como única possibilidade.
Mas o homem é um ser social.
A experiência do GAS demonstra que coletivamente, agindo solidariamente temos chances de superar dificuldades.
As conquistas individuais e coletivas foram possíveis pela ação de todos.
Isolados somos presas fáceis dos predadores.
O individualismo imposto é doença. O sofrimento dos trabalhadores nos locais de trabalho e o grande número de adoecidos atestam essa realidade.
O individualismo é contra a natureza humana. As pessoas sofrem quando estão encurraladas em sua solidão.
É a sociedade do anti-depressivo, das “pílulas da felicidade”. É preciso um remédio para, quimicamente, agindo internamente no organismo, compensar essa agressão externa, “a alienação da ação coletiva”.
Não é o coletivo sufocando a identidade, mas quando nos isolam, nossa identidade- que se forja socialmente - não aflora, vira patologia.
Isto é realizado quando sufocam liberdades, impõem situações de trabalho onde não temos autonomia, tendo que sujeitar-se, “sem choro”.
Sufocam nossa realização coletiva e individual. Sufocam quando inibem nossa criatividade, nossa possibilidade de decidir.
Conversar, conviver, criar espaços solidários, é saúde, é transformador.
O segredo do Grupo de Ação Solidária é que sabem disso e há dez anos praticam a solidariedade.
Parabens, esse exemplo nos dá força e certeza que é possível mudar o mundo e superar as dificuldades.

O Gas: O Grupo de Ação Solidária em Saúde é um espaço de reflexão e construção social coletiva, formado principalmente por trabalhadores vítimas de acidentes e doenças relacionados com o trabalho, afastados ou não. Tem por objetivo propiciar aos trabalhadores o compartilhamento de experiências, propostas de mobilização e ação sindical, reforçar e divulgar direitos básicos de cidadania, estimular a luta por saúde e condições de trabalho, organizar e conscientizar os trabalhadores na defesa por melhores condições de trabalho e saúde, bem como a criação de novos conhecimentos a partir da reflexão das práticas desenvolvidas.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

SINDICATEANDO FEZ QUE FOI MAS VOLTOU!


Vou tentar retomar as reflexões, por escrito, sobre o sindicalismo no meu blog.

Escrever é um ato de coragem. Escrever periodicamente é um ato de persistência. Pelo menos para mim, é um ato sacrifício.

Mas creio ser obrigação “colocar na tela” algumas singelas reflexões sobre o mundo do trabalho.

Assim podemos gerar o necessário debate para avançar em nossa luta.

Especialmente, se faz necessário reafirmar a importância do sindicalismo na história e, especialmente, no presente.

Atualmente estamos no meio de uma grave crise do capitalismo e, como sempre, o capital busca saídas que significam sacrifícios da população.

Já vemos isso no grande número de demissões e retrocessos nos direitos em alguns setores chantageados pelo capital. Buscam socializar os efeitos da crise com todos.

No mundo globalizado todos sentimos os efeitos das crises e também podemos aproveitar a situação para soluções progressistas.

O desafio de nosso tempo é fazer de cada avanço uma trincheira da qual seja possível ocupar novas posições do inimigo, e quando na resistência acumular forças para a superação do modelo capitalista.

Momentos de crise são também momentos de possibilidades, recolocam o posicionamento das classes na sociedade.

As brechas que a crise possa proporcionar precisa ser aproveitada, aprofundando o debate com amplos setores populares construindo saídas do ponto de vista dos trabalhadores, construindo grandes mobilizações.

Isso não será possível sem a ampla unidade, sem hegemonismos e posturas corporativistas. Muito menos devemos esperar pelo Estado, pois a tendência é que esse seja utilizado pelo capital.
A crise abre possibilidades de debatermos com os trabalhadores, mostrando os limites do capitalismo e mostrar que estávamos corretos quando denunciávamos o neoliberalismo e suas conseqüências.
Deu no que deu! Estávamos com a razão! Portanto ampliou nossa legitimidade para denunciar o modelo centrado no mercado.
O desafio é não ficar só na denúncia, buscar políticas concretas que materializem a superação do modelo.

Portanto o debate ideológico tende a acentuar-se. A ideologia é reproduzida cotidianamente, escamoteia a realidade, cria “consensos” que desvirtua a realidade garantindo a manutenção da dominação em uma sociedade imersa no fatalismo.

O momento exige elaboração teórica mas também de ação política concreta. Não de forma acomodada, como se encontra a maioria do movimento sindical, reagindo ao fato consumado, quando reage.

Mas de forma ativa, com presença nos locais de trabalho; buscando estudar e compreender as mudanças e elaborando propostas alternativas; afirmando nossa opção por uma sociedade mais justa, socialista.

Um sindicalismo com perfil de classe definido, contra a ordem, não compactuando em negociações que gerem confusão nos trabalhadores e falsas ilusões, na lógica do “dar os anéis para não perder os dedos”. Precisamos serrar os punhos e ir à luta!

A superação das dificuldades só se darão com o seu enfrentamento corajoso, unificando os excluídos, rompendo com a visão de meras lutas parciais.

Está cada vez mais claro para todos a estreita ligação entre conquistas imediatas de salário com a necessária superação do modelo econômico.

Precisamos descobrir os elos mobilizadores e com decisão aguçar as contradições, nunca minimizá-las.