domingo, 9 de janeiro de 2011

FÉRIAS E APROPRIAÇÃO DO TEMPO


Quando em férias: um “almoço” em volta do guarda-sol, com sanduíche, água e suco quente, cerveja “fresquinha”; um sol escaldante, areias nos dentes, ardência no lombo. Quando em férias, torna-se um banquete, momento de integração, todos sorrindo, contentes.

Na rotina diária: as refeições são momentos de desencontro, meras situações de alimentar o corpo biológico para estar apto a continuar trabalhando, reproduzindo a engrenagem social.

Quando em férias: voltamos a ser crianças, fazemos coisas inimagináveis em nosso rotineiro dia-a-dia...fazemos castelos de areia; “pegamos jacaré”; fazemos xixi na água ou atrás da moita.

Na rotina diária: adultos chatos.

Quando em férias: voltamos a sorrir por qualquer bobagem (Está bem que muitas vezes estimulados por uma caipirinha). Somos mais alegres, solícitos, mais pacientes. Andamos mais devagar, o tempo cronológico nos castiga menos.

Na rotina diária: Impaciência, sempre correndo, sem tempo de olhar para o colega.

Quando em férias: somos mais carinhosos. Beijamos mais vezes nossas mulheres. Damos mais atenção à nossos filhos. Damos vazão a nossos sentimentos que ficaram represados pela rotina diária.

Na rotina diária: o beijo é maquinal. Nossos filhos incomodam quando pedem para brincar ou demoram para dormir – não incomoda teu pai, ele está cansado.

Quando em férias: cultuamos o corpo, caminhamos, nadamos, comemos peixes, saladas, comidas saudáveis.

Na rotina diária: comemos cheese, sanduíches, comidas gordurosas. O grande exercício é subir no ônibus ou entrar no carro.

As férias são pequeníssimas parcelas do tempo em que podemos administrá-lo.

Na rotina diária somos enfraquecidos pelas exigências, em uma rotina de sobreviventes. O trabalho hierarquizado, luta pelo emprego, o medo, a angústia, o estresse. Tudo isso diminui nosso sorriso, a vontade. 

Somos outros sendo o mesmo, meras “carcaças do tempo”.