quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

MOVIMENTO SINDICAL E CULTURA (2)


 
O movimento sindical necessita ser desenquadrado de sua lógica pragmática.
Precisamos de formas de luta que inovem, sejam criativas, além das lutas tradicionais.
Buscar novos significados, resgatar antigos símbolos e bandeiras. Sempre em movimento.
Numa práxis que aponte caminhos, exercendo efetiva direção.
Encantando, hegemonizando os corações da classe trabalhadora, superando a pragmática do presente eterno.
Realizar os sonhos ao caminhar, pensar no devir, sem deixar de enfrentar o cotidiano, mas com postura estratégia.
Enfim, reenquadrar-se nessa nova moldura social

“O sindicalismo que já foi mais movimento que instituição, hoje é mais instituição que movimento”. (Boaventura de Souza Santos)

Enfrentamos minotauro neoliberal, resistimos , avançamos, mas ainda não saímos do labirinto, ainda buscamos o fio de Ariane.
A Ação cultural pode nos dar caminhos, pois envolve reflexão, gente em movimento, criatividade. 
Tem uma grande transversalidade, permitindo cimentar as várias ações em um todo coerente, transformador.
Para sair do labirinto, devemos usar a criatividade e construir nossas asas.
Mas, diferentemente de Ícaro, não voar em direção ao sol, “querer tomar os céus de assalto”.
Devemos ter noção dos limites e das possibilidades de nossos inventos e intentos.
Nossa rebeldia deve ser construída com tenacidade, criatividade, mas também com competência, estudando e compreendendo as dificuldades, 
como diz Boaventura, sermos “rebeldes competentes”.

“A cultura sindical terá de mudar sem renunciar a história, sem a qual não estaríamos onde estamos hoje. É preciso substituir uma cultura obreirista que associa progresso a crescimento do PIB, por uma cultura democrática de cidadania ativa para além da fábrica” (Boaventura)

Para além da fábrica não significa excluir os locais de trabalho,
mas compreender que os trabalhadores são cidadãos que necessitam ser tratados como tal,
sendo chamados a exercer sua cidadania, sem o que, as lutas específicas são de fôlego curto.
Significa entender que nos locais de trabalho também a sociedade se expressa e valores são construídos.
Os indivíduos particulares são cotidianamente bombardeados por valores da sociedade de mercadoria introjetando-os como algo lógico e natural.

“Há que se reconstruir o inconformismo e a indignação ante a banalização da injustiça e da violência através da criação de imagens e de subjetividades desestabilizadoras.” (Boaventura)

A cultura permeia todas as ações da sociedade.
Por isso a cultura deve ser tratada com centralidade na ação sindical.
Talvez assim o sindicalismo amplie a capacidade de hegemonizar um amplo movimento cultural que questione as bases da dominação, onde o individualismo é cultuado, a natureza devastada, tudo virou mercadoria.
Talvez um sentimento de generosidade e postura solidária se sobreponham
e avancemos no caminho de uma sociedade cujo objetivo central seja o bem comum.

Cultura é comportamento, se manifesta nas mínimas relações do cotidiano, é postura frente ao mundo. A auto-organização de cooperativas é cultura; sua conformidade em enfrentar filas, maus cheiros, desrespeitos, humilhações, é cultura; sua resistência, seu modo de encarar adversidades, é cultura; sua luta, individual ou coletiva, é cultura. É pela cultura que nos superamos e a proposta de desafio à classe trabalhadora e à sociedade civil deste país deve vir pelo meio da reflexão crítica de suas próprias demandas; redefinindo símbolos, ideias, valores e comportamentos; definindo um projeto de nação. É com a cultura que uma nação pode dar um salto no refazer da solidariedade, no direito à apropriação de sua memória e no conhecimento da importância do seu papel." (Célio Turino) 

continua...

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